Blade Runner 2049 (2017), dir. Denis Villeneuve

felipe caparelli
2 min readSep 18, 2021

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Menos bonito e mais pragmático que seu predecessor, esse filme parte mais da premissa aventuresca da revolução replicante do que da mitologia existencial por trás do futuro distópico idealizado por Philip K. Dick (e Ridley Scott). Por mais que o roteiro e a direção tentem se desvencilhar do legado de Blade Runner ao narrar uma história original — não mais sobre aposentadoria e sobrevivência e sim sobre emancipação e renascimento — Blade Runner 2049 tem seus maiores méritos justamente onde se sustenta em seu prelúdio.

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Embora desprovida de uma figura antagônica central, a trama utiliza-se de um rol de personagens que resgatam e aprofundam-se em muitas das pautas levantadas nos acontecimentos de 2019 — desde o herói moralmente ambíguo e a presença da femme fatale até a paranoia e opressão por trás do êxodo humano da Terra — tecendo uma rede de motivações e conflitos que nos questionam o que é real e o que não é.

O mote “Mais Humano Que Humano” é relegado ao segundo plano em uma sociedade onde a presença orgânica foi reduzida ao consumo passivo de um sem fim de produtos e serviços oferecidos pelo império tecnológico comandado por um Jared Leto que, embora convincente como o sinistro plutocrata/cientista maluco, é desprovido do romantismo brutal que consagrou o Nexus-6 insurreto de Rutger Hauer. A palavra de ordem aqui é “Mais Humano Que Humanos”, no plural: não é mais sobre a superioridade individual e sim uma supremacia coletiva, e é esse coletivo, esse agrupamento de figuras — humanas ou não — que conduzem um novo mundo onde o sintético esgotou-se em si mesmo e busca uma solução somática para expandir-se.

Ao dar o protagonismo para um replicante que questiona sua humanidade, Villeneuve consegue ao mesmo tempo exprimir a angústia de um mundo esgotado e uma existência de servitude e a esperança velada em uma nova vida. O Agente K de Ryan Gosling equilibra desespero, energia e confiança mas, por mais que o ator se esforce, não consegue ter o mesmo charme e ambiguidade do Caçador de Andróides original, que retorna sem as dúvidas plantadas 30 anos antes mas, felizmente, também sem as respostas.

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